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Foto do escritorRomeu Waier

Paixão de Cristo parte 2-2019- Personagens e humildade

Romeu Waier interpretando um Fariseu

Assim que o convite foi aceito ja estávamos nos preparando para o primeiro ensaio aonde eu e meus amigos estávamos inclusos. Falarei aqui na visão de ator iniciante. Então peço que ninguém leve a mal a minha ignorância. No primeiro ensaio eu estava muito nervoso, de certa forma apreensivo porque não sabia oque o Cleber estava preparando. Sempre soube que ele tem uma ficha com o nome de cada aluno aonde anota tudo oque sabe, acha e espera dele ( Estou brincando). Mas digamos que socialmente falando, sim a uma expectativa que ele como professor quer que nós suprimos. Até porque ele sabe aonde podemos chegar como atores. Assim de primeiro momento fiquei assustado com a proposta. Fazer Arimateia, um dos velhos que ficava na frente do templo. Eu sabia que era uma responsabilidade gigantesca. No fundo da minha alma eu sabia que era capaz de interpretar aquele personagem. Talvez não no primeiro ensaio, nem no segundo ou terceiro. Mas conseguiria. Nunca havia trabalhado com Cleber como diretor, para mim e meus amigos era a primeira vez. Mas senti que não eramos os unicos nervosos naquela sala. Cleber tem uma didatica muito diferente dos ensaios e da Esmate. Com muitas camadas consegue mudar bem seu tom social, profissional e didatico. Talvez algumas pessoas que não estejam acostumadas com isso, se assustem de primeiro momento. Já que nos ensaios seu tom é profissional, por tanto a serieadade prevalece, o interessante é analisar que sempre que a energia começa a ficar pesada, Cleber consegue deixa-la leve novamente. Assim tendo uma noção didatica social muito forte, e não era de menos para um Libriano! Mas alem de signo podemos analisar essa situação através da atuação. Um ator deve saber quando sua cena não esta funcionando, ou perdeu para o publico, enfim. Socialmente falando todos somos capazes de ter essa sabedoria de grupo. Canalizar ela na atuação faz com que sua percepção fique ainda mais aguçada. Cleber é prova disso.

Infelizmente não tive o prazer de interpretar Arimateia, talvez se eu tivesse insistido como insisti com o personagem que era Marido da adultera eu teria feito. Mas a questão é, não me sentia preparado para o primeiro ensaio fazer aquele personagem complexo. Mas se eu tivesse insistido teria feito. O grupo é muito alem do que apenas interpretação, é um trabalho coletivo, de união, ajuda mutua e de priorizar o teatro. Assim como a Rainha ( Critica dos espetaculos do Grupo Máschara) Existe dentro desse universo, a hierarquia de status. No fim acabou que eu sabia que estava em um lugar que era muito alem do que minha ignorancia me fez acreditar, por esse motivo e outros não insisti no papel do Arimateia, mesmo sabendo que eu conseguiria faze-lo.

Pois então um grande exercicio de humildade passou a ser feito por mim, tive a consciência das minhas dificuldades quando o Cleber me pediu para fazer alguns personagens. Como a minha noção de voz e canalização de Elan. Eu sabia, que se era capaz de fazer um personagem com pouca participação, seria capaz de fazer algo maior depois. O meu exercicio intenso em cima do personagem do Marido da mulher adultera foi sofrido. Eu estava fora da minha zona de conforto, e eu sabia que o Cleber havia me colocado naquele papel para me testar como ator. Minha voz, minha capacidade de canalizar energia, minha força em cena, meu jogo com o colega, a capacidade de deixar vicios corporais, melhorar a dicção. Enfim, quanto mais me esforçava, mais percebia que um personagem que não era do elenco principal, tinha as mesmas problematicas que qualquer outro personagem. Conforme foi passando as semanas, pude perceber intimamente minha colega de cena, Clara Devi, muito dedicada e atenciosa, sempre disposta a ajudar todos os colegas. Tivemos alguns problemas no inicio para conseguir criar um jogo legal. Mas conforme iamos apresentando nossa ligação em cena aumentava. Nunca queira fazer apenas a sua cena e sair do palco. Pense sempre oque voce tem a oferecer para o colega em cena, sempre me preocupei muito se estava a machucando, e conforme sua noção de me ajudar em cena crescia, o jogo ficava cada vez mais interessante.

Romeu Waier e Clara Devi

A capacidade da triangulação em cena e se deixar ser penetrado pela esfera do colega é algo difícil mas não é impossível. Vejo que tem muito haver com a respiração e o nervosismo, a teimosia esta intrínseca nisto. A nossa dificuldade para criar a conexão era justamente nisto. Eu propor algo e ela aceitar, e vice e versa. Quando havia problemática era porque havia nervosismo, por tanto a respiração falhava, você não conseguia raciocinar, uma teimosia e arrogância por conta do nervosismo aflorava e o jogo e inter-relação com o colega era perdida.

Fiquei muito orgulhoso de ver meus amigos ( As panteras) se esforçando em cena, na mesma semana do ensaio, lemos os livros que o Cleber nos emprestou. E logo em seguida o mesmo nos ajudava em cena, cada qual com uma forma de dizer. Comigo Cleber sabia que não precisava ser tão doce, quanto mais direto melhor. Com Eliani ainda havia um cuidado na forma de explicar. Henrique a mesma coisa, mas com mais intensidade. Porque como disse antes, ele sabia como cada um de nós iria reagir. E isto é mais uma prova viva que Cleber Lorenzoni é um ótimo diretor. Talvez a unica coisa que eu percebi que poderia melhorar, não era nem do próprio Cleber, mas sim dos alunos e colegas. Percebo que um medo intrínseco acaba se instalando depois da serieadade ter pousado na sala de ensaio. E isto acaba travando a noção de ser pró ativo, tanto em cena, quanto nos bastidores. Entendo completamente, até porque eu tambem sou assim, acabo travando e fico engessado na vida. Mas é importante exercitarmos essa noção social. Que não tem problema perguntar, e ainda mais, sugerir algo em cena. Pelo menos tera colocado pra fora. Eu mesmo contei sonhos, dei ideias, brinquei e falei muita merda, tambem algumas vezes acabei sendo ríspido. Mas em nenhum momento faltei com respeito com ninguem. Saiba que somos humanos, o ator deve ter muita confiança em si, justamente para não ficar perguntando 1000 coisas que ja sabe, e tambem para poder ser pro ativo. Muitas pessoas confundem ser pro ativo com teimosia. Ser teimoso é uma característica do ator iniciante que se acha profissional. Talvez se eu tivesse insistido em fazer Arimateia estaria sendo teimoso, ou talvez não. Só fazendo para perceber. Mas a questão é, escute oque seu diretor tem a dizer, fique atento e confie no seu corpo.

Henrique Artemii como Barrabas. Eliani Alessio como Claudia. Romeu Waier como Fariseu.

Esse jogo em cena, aonde havia uma troca mutua, tive muito com o Gabriel e o Nicolas na cena dos apostolos e do templo. A mulher adultera sem duvidas me tocou e senti realmente a troca. Mas entre os outros menos obvios, foram os que eu senti uma troca. Houve muitas tentativas de trocas tambem entre o meu apostolo e o apostolo do Douglas. Mas na maioria das vezes fui eu que cedi ao seu jogo em cena, e não ao contrario. Adorei o Anjo que o Douglas fez, não cheguei perceber se ele fez alguns movimentos que o Cleber sugeriu. Laura Hoover e Vagner Nardes sem duvida me tiraram o folego, fiquei apaixonado pelas suas interpretações e pela criação da cena em si, Cleber foi impecável na criação dessa cena. Os dançarinos arrasaram. Fabio Novello e Eliani Alessio me surpreenderam com suas interpretações, a caracterização de Pilatos estava perfeita. Eliani em sua dublagem estava impecavel, sua interpretação era marcante, adoraria ver o Cleber tenta-la por como uma vilã, adoraria ver essa minha miguxa do coração trabalhar em cima disso, graças a Deus, literalmente a Jesus, eu consegui ver a maioria das cenas. Ricardo Fenner interpretando Kaifaz me deixou assustado, no bom sentido, algumas pessoas do publico vieram me dizer que estavam quase que hipnotizados pelo seu Kaifaz, uma mistura de medo e esplendor diabolico. A cena em que Kaifaz se ajoelha no chão na parte em que os Apostolos aguardam com medo que Jesus seja levado, é de tirar o folego. Seu clamor quase de vitoria por Jesus ser levado a julgamento é de fazer os pelos arrepiarem. Renato, Cleber, Dulce e Alessandra, estavam impecáveis, é tão bom ver que até os mais antigos do grupo sofrem para fazer uma boa atuação. Dulce me surpreende sempre, levo como inspiração, ela sempre fica grande no palco assim como o Renato. Cleber sem duvida faz todo mundo chorar com sua interpretação, inclusive Maria e o Mendigo fofo. As cenas finais dele com Maria são de tirar o folego. Stalin interpretando Jão Batista me faz questionar se sou um bom ator. Sua preparação é intensa sua fé cênica fortíssima e interpretação irretocável. Henrique conseguiu tirar de dentro das entranhas algo que estava guardando durante todo ensaio, e deu vida ao seu Barrabás chocando o publico e o elenco.

INTER-RELAÇÃO

É importante perceber isto, até porque no momento de criar cenas em outras peças meus olhos vão ir direto para aqueles que eu sei que vão se inter-relacionar comigo. Evaldo tambem tem um otimo jogo em cena, me senti muito a vontade com ele, eu sabia que se eu desse alguma ideia em cena, ele aceitaria e jogaria comigo.

Conforme as apresentações iam passando podia perceber a história de cada um no grupo, e como o Cleber trabalha em suas camadas com cada um ali. Sem duvida foi um aprendizado muito amplo para mim como ator. Percebo tambem que a maioria dos Anciões do grupo consegue se distanciar do proprio ego para conseguir vaguear entre as camadas de socialização e profissional. Alessandra conseguiu me surpreender desde ao primeiro dia que pisei no Grupo Máschara, Renato com sua capacidade de criar e ajudar os colegas é incrivel, Dulce com sua sinceridade, energia de proteção e dicas me faz me sentir em casa, Cleber com sua energia a 220 voltz me faz questionar se ele é humano, até parece que consegue enxergar 360 graus, quase Onipresente. Todos com múltiplos talentos que deram corpo ao espetaculo. Deixo aqui minha gratidão e admiração. Todos muito talentosos e com muita energia para dar. ❤

OBS: Até agora me pergunto como a Elen não teve um aneurisma cerebral em cima da mesa de som. Sua responsabilidade talvez era maior que todo o elenco junto. Dou meus parabens para ela pelo trabalho incrivel, e ainda mais, por ter aceitado fazer. Voce é foda. Se fosse comigo provavelmente teria saido correndo antes do Cleber terminar de convidar. Voce é corajosa!

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