O Teatro é como uma árvore ancestral que ao vermos sua copa cheia de galhos, folhas e frutos achamos que estamos vendo sua totalidade. Engana-se o Ator ou o ignorante que acha saber de todos os galhos. Nem sequer imagina a existência de suas raízes e principalmente suas conexões metafísicas. Assim lembro-me dos meus ancestrais dançando em volta de uma árvore gigantesca ao som de um tambor e pedindo clamor ao Deus Trovão. A mesma ritualística que o fazem estar em estado de transe por cercados de signos, arquétipos e uma fé inabalável pelo invisível. Assim existe um grupo de pessoas comunicando algo em formação do mundo das ideias de Platão. Assim entramos com sua magnitude teatral de erguer tão próximo a Deus que seria blasfêmia misturar política na Arte.
Porém os tempos mudaram e arte evoluiu junto trazendo denominações, técnicas, e estudos complexos sobre o’que de fato se compõe um ator. Primeiramente poderia dizer que o Ato de estar Teatralmente em ação nos tempos atuais, já é em si um privilégio e uma tortura pois viver de arte é uma batalha consigo mesmo, com o outro, e com os ignorantes. O teatro é gangrena e ação, seja interna ou externa.
Teatro é ação, mas acima disso é tornar algo abstrato em físico. Endeoplastico. Trazer do mundo das ideias em forma de matéria traduzida em signos e ações uma egrégora, uma energia! Uma ideia! Sendo algo muito difícil que não engloba apenas você. Mas um grupo, assim se tornando uma missão de convívio com outras pessoas. A existência de um elenco, fazer uma peça e ainda estrear com a permissão dos Deuses é algo quase impossível. Teatro é a gangrena do conflito do esvaziamento de diversas tentativas. A persistência é equivalente as dificuldades e assim a glória. Por tanto querer fazer arte é fácil mas de fato concretizá-la é apenas para os persistentes que deram seu tempo, seu namoro, seus amigos, suas dificuldades, seu caráter e tudo que te compõem ao Teatro.
Portanto nós descobrimos atuando a cada personagem que fazemos ou história que nos aprofundamos entramos em uma sincronia cósmica de nós mesmos. Que por causas e condições nos colocam frente a frente com nós mesmos. Porém assim como Sartre diz:
” O inferno são os outros” Também acho que a maioria dos iniciantes vêem os outros como um inferno. Seja como público, crítico ou trabalho em grupo. O Ator sempre estará a mercê do olhar do outro. E quando nos vemos no outro não gostamos porque não a filtros ou achares, aquele que te observa sempre te verá de fora e aquilo se torna você. E então podemos entrar em uma loucura interna a ponto de perceber que não exteriorizamos o’que achamos ser.
O Teatro vai além de se descobrir porque ao se reencontrar precisamos abrir portas para outros se descobrirem. Existe um campo de batalha onde as estratégias do inimigo são maquiavélicas. Aonde o fim justifica os meios. E a arte definitivamente é uma ameaça às suas estratégias. Muitos artistas estão morrendo sem saber do próprio potencial porque não tiveram a chance de ter o aprendizado certo. Outros morreram no campo de batalha e agora escondem sua vocação em uma caixa e vão trabalhar na pizzaria da esquina. Vivemos em um mundo onde ser artista não é suficiente, onde saber trabalhar em grupo ou se descobrir através do olhar do outro não é uma opção. Precisamos expandir e agrupar se não quisermos morrer de fome, a descoberta em si mesmo na arte não vale de nada se não for para ser compartilhada. Não temos o privilégio de sentir vergonha, medo ou abandonar o barco porque não temos esse tempo. Fomos criados para sermos sobreviventes e descobrir um novo mundo. Aonde cair não é uma opção porque podemos não levantar novamente.
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